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A Ledger ainda é segura? Controvérsia recente põe em evidência o dilema de segurança cripto

Faz tempo que as criptos têm um problema com sua abordagem implacável de segurança. Sim, você é o único que pode acessar e transferir seus bitcoins caso seja o único com a chave privada da sua carteira Bitcoin. Mas o outro lado dessa segurança toda é que, caso você perca suas chaves, também perde seus BTC. Tal incidente ocorreu com diversos indivíduos durante a breve existência das cripto, havendo uma variedade de histórias de pessoas buscando, em vão, recuperar fortunas perdidas.

A Ledger se propôs recentemente a ajudar essas pessoas quando anunciou a Ledger Recover, um serviço que permitirá que proprietários de suas carteira hardware Ledger Nano X recuperem a frase seed que possibilita a recuperação da carteira. Em princípio, o serviço parecia algo oportuno e de fácil utilização, visto que asseguraria que proprietários de carteiras jamais perdessem suas criptos, mesmo que perdessem o registro físico (ou digital) de sua frase seed.

No entanto, grande parte da comunidade cripto respondeu rapidamente ao anúncio da Ledger com uma mistura de choque e indignação, acusando o fabricante da carteira de introduzir indevidamente uma potencial “falha de segurança” aos seus dispositivos. Mas, embora a Ledger não tenha obtido êxito em suprimir tais preocupações até o momento, pode-se argumentar em seu favor que algo como o Recover é necessário se o setor pretende encorajar uma maior adoção das criptomoedas e uma maior autocustódia, o que vem sendo cada vez mais necessário no contexto de invasões e falências de corretoras.

Ledger Recover

Ledger Recover atrai críticas apesar de recursos de opção de inclusão

Em termos abstratos, o Ledger Recover é simples de entender. Basicamente, o serviço divide uma frase seed da carteira em três partes criptografadas que seriam armazenadas com três provedores separados (Ledger, Coincover e EscrowTech). Ao fazer isso, o proprietário da dita carteira seria capaz de acessar novamente sua frase seed no caso de perda de seu próprio registro da frase.

Uma frase seed de carteira de criptomoeda é um conjunto de 12 ou 24 palavras geradas aleatoriamente que pode ser usado por um proprietário de carteira para recuperar suas chaves privadas, que precisam ser usadas a fim de transferir fundos para fora da carteira. Em outras palavras, se perder as chaves privadas, você poderá usar a frase seed para recuperá-las. Por sua vez, o objetivo da Ledger com o Recover foi introduzir outra linha de defesa além dessa, fornecendo meios para recuperar aquilo que é necessário para recuperar as chaves.

Como explicado pela Ledger em seu site, será preciso “verificar sua identidade com o uso de seu documento de identificação” para se cadastrar no Recover, com a inclusão de medidas know-your-customer (conheça seu cliente) necessárias para assegurar que é realmente você utilizando o serviço, e não um invasor. É o uso de KYC que possibilita também que proprietários de carteira recuperem os fragmentos criptografados de sua frase de recuperação seed, sendo os fragmentos inúteis quando sozinhos.

Ledger recover info

Fonte: Twitter

Além disso, a Ledger afirma que o Recover é um serviço de opção de inclusão, o que significa que a assinatura não é obrigatória. Entretanto, esses recursos não puderam evitar uma onda significativa de críticas, que foi centralizada, em grande parte, em torno do medo de que o serviço pudesse, de alguma forma, ser usado como um vetor de ataque por hackers.

Por exemplo, o investidor em criptomoeda Ryan Berckmans escreveu no Twitter: “O firmware da Ledger v2.2.1 instala o Ledger Recover, um serviço negligente que extrai suas chaves privadas de carteira hardware e as envia através da internet.” Sua resposta ao anúncio da Ledger não foi a única a criticar a empresa francesa, com a consultora de Web3 Vanessa Harris sugerindo que o serviço estivesse “apenas começando a ser explorado.”

O ápice de tais críticas é que, com a chegada do Ledger Recover, os dispositivos da Ledger contarão com firmware que os torna capazes de enviar as chaves privadas de uma carteira através da internet. Sim, a Ledger afirmou repetidas vezes, em sua defesa, que os usuários precisam optar pela inclusão no serviço para, de fato, utilizá-lo, e que as chaves privadas não podem ser reconstituídas sem prova de identidade. No entanto, teme-se que, com essa capacidade fundamental gravada no código dos dispositivos, hackers empresariais possam encontrar alguma forma de explorá-la.

Trezor relata pico de vendas, Ledger adia lançamento

Diante de tal medo, a Trezor relatou um aumento de 900% nas vendas de seus dispositivos, embora sem oferecer qualquer detalhamento real desses números ou dados de suporte. Contudo, considerando que algumas pessoas tenham chegado a alegar que a Ledger “praticamente destruiu sua reputação,” é completamente plausível que a Trezor tenha aproveitado algum tipo de aumento nas vendas. Isso ocorreria apesar do fato de que a empresa de segurança Unciphered anunciou — logo após a controvérsia da Ledger — que era capaz de hackear fisicamente a carteira hardware Trezor T, e que o bug é “irreparável a nível de chip”.

Ao enfrentar essa crise, a Ledger se mobilizou, de maneira previsível, para abordar as preocupações da comunidade. De maneira imediata, anunciou por meio de um post de blog que adiaria o lançamento do Recover e tornaria o código do serviço aberto, para que desenvolvedores e membros da comunidade pudessem analisar esse código por conta própria (e potencialmente comprovar sua segurança).

Além disso, a empresa postou uma seção de Perguntas Frequentes sobre o Ledger Recover que responde diretamente diversas perguntas e demandas feitas pela comunidade. Ela afirma que a chave privada de seu dispositivo pode ser acessada “somente após sua aprovação e confirmação” no dispositivo. Ela declara também que não haveria benefício de segurança em ter dois sistemas operacionais separados (como sugerido em alguns comentários), com um tendo a capacidade do Recover, e o outro não.

Tendo dito isso, o CEO da Ledger Pascal Gauthier reconheceu a possibilidade teórica de que uma frase seed salva pelo serviço Recover poderia ser acessada por meio de uma intimação do governo, forçando os três provedores independentes do serviço a disponibilizar os fragmentos da frase. Essa admissão destaca o fato de que toda solução de segurança introduz seus próprios problemas, e o Recover não é uma exceção. Mas, apesar de sua possível fraqueza, algumas pessoas na comunidade afirmaram que o serviço pode ser necessário para aqueles desprovidos do conhecimento técnico para armazenar com segurança suas frases de recuperação seed por conta própria.

De fato, o Recover pode ser realmente celebrado por dar um passo importante em direção a tornar a autocustódia mais acessível a muito mais pessoas, considerando como as criptos podem ser implacáveis no caso de perda das chaves privadas. Na realidade, a glassnodes estimou que cerca de três milhões de BTC — no valor aproximado de US$ 83,46 bilhões — foram perdidos para sempre, destacando o potencial custo do sistema de segurança ultrarrigoroso do Bitcoin. Isso mostra, no mínimo, que algo como o Recover é necessário para que mais investidores pequenos e institucionais entrem no mercado de criptomoedas, e mesmo que a Ledger não tenha acertado todos os detalhes, ela deu um passo na direção certa com seu novo serviço.

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CryptoVantage Author Simon Chandler

About the Author

Simon Chandler

Simon Chandler is a journalist based in London. He writes about technology, markets and politics, and has bylines for Forbes, Digital Trends, CCN, Wired, TechCrunch, the Verge, the Sun, the New Internationalist, and TruthOut, among many others. His Twitter handle is @_simonchandler_

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